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Por trás dos seus olhos: confusão visual | Crítica

Antes de começar, preciso avisar: infelizmente esse filme não é baseado no best-seller da autora Sarah Pinborough que tem o mesmo nome. Fiquei bem confusa quando comecei a assistir e não identifiquei a história. Exatamente por isso: não são as mesmas.

Durante o filme, dirigido por Marc Forster – que já é conhecido por ter dirigido sucessos como 007 – Quantum of Solace (2008) e Em busca da Terra do Nunca (2004), acompanhamos a realidade do casal Gina (Blake Lively), que é cega, e seu marido James (Jason Clarke). O filme se passa em Bangkok, na Tailândia, e não é possível entender o porquê de dois americanos estarem vivendo na Tailândia e falando inglês com quase todo mundo até depois da metade do filme.

Quando penso em Blake Lively, lembro dela como a surfista em Águas Rasas (2016) ou como a protagonista de Gossip Girl, ambos papéis ressaltando sua beleza. No início de Por trás dos seus olhos, quase não consegui reconhecer a atriz. Faz parte da formação do personagem e há uma razão, mas Gina não tem nenhum sentido de moda ou cuidado pessoal. Particularmente, creio que deixar uma mulher tão bonita como Blake Lively sem nenhum atrativo é um trabalho muito bom tanto dela quanto da equipe de maquiagem e figurino.

Sério, mal dá pra ver que é ela. Serena nunca ia deixar isso acontecer.

O filme não foi feito para assistir na sala junto dos pais. Ele é pesado, dramático e contém cenas de sexo – que não são desnecessárias completamente. Uma das coisas que é possível experimentar durante o filme é a visão em primeira pessoa, onde o público consegue ver apenas o que Gina consegue. É um recurso muito interessante, porém foi usado a exaustão durante o longa.

Ainda falando sobre detalhes da gravação, a edição do filme todo faz com que ele pareça um vlog de alguma beauty guru para o Youtube. Cortes secos, rápidos e foco em objetos que não fazem a menor diferença para a história integram a ala de “Get ready with me” nas redes sociais e agora também na tela do cinema. Não há uma fluidez entre as cenas.

Aparentemente, esse casal só passa por uma dificuldade: ter um filho. Então vemos todas as tentativas e a frustração de ambos a cada tentativa que dá errado. Tanto Blake Lively quanto Jason Clarke são ótimos no que fazem, mas nesse filme não conseguiram gerar qualquer química entre seus personagens, o que enfraquece um pouco a história.

O grande plot twist do longa vem quando Gina tem a oportunidade de fazer um transplante de córneas e recuperar a visão em um dos olhos. Acredito que o filme é dividido em três partes muito claras: Gina sem visão; Gina com visão; Gina voltando a perder a visão (não se preocupem, não é spoiler).

Não acho que seja fácil interpretar uma pessoa com qualquer deficiência, ainda mais quando ela é visual. Se formos comparar, por exemplo, com Jamie Foxx no papel de Ray Charles (Ray, 2004), Blake não consegue passar a seriedade necessária para que acreditemos que ela não consegue enxergar. Tanto que há uma cena que fiquei confusa se ela ainda enxergava ou havia voltado a ficar cega, pois não havia diferença alguma.

Fica a dúvida: ela está cega ou não nessa foto?

E se você pensa que o filme é sobre a cegueira de Gina, está errado. Os problemas começam a se desenvolver após o transplante, tanto que há um diálogo em que Gina explica muito meus sentimentos durante o filme: “Parece que antes eu sabia tudo. E agora não mais” e é exatamente assim que me senti com a mudança.

Por trás dos seus olhos está longe de ser o melhor filme de Marc Forster, ou de Blake Lively e Jason Clarke. Ele é fraco, cansativo e, a melhor forma de resumir: sem sal.

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