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O provável telefilme que estreou em Gramado

Finalizando as exibições da Mostra Competitiva de Longas Nacionais, o Palácio dos Festivais recebeu na noite de quinta-feira, dia 15 de agosto, o filme “Barba Ensopada de Sangue”, dirigido por Aly Muritiba, figura muito presente no Festival de Cinema de Gramado nos últimos anos. Quando ele não apresenta um longa (como Ferrugem e Jesus Kid), ela participa com alguma série (Cangaço Novo, ano passado, e Cidade de Deus, na segunda noite deste ano). É claro, isso só mostra o quanto sua carreira vem em uma crescente. Desta vez, ele está adaptando o livro homônimo do autor gaúcho Daniel Galera, e traz no seu elenco estrelas como Gabriel Leone (Ferrari, Dom, e o futuro Ayrton Senna da Netflix) e Thainá Duarte (Cangaço Novo, Aruanas).

O longa tem produção da Globoplay, o que logo fez quem estava presente na sessão ter um pequeno estalo na mente. Muritiba fez questão de chamar o encarregado da empresa para subir ao palco, reforçando de forma expressiva a participação da marca. Ligando os pontos e assistindo ao longa, a impressão de que vi um telefilme no festival ficou um tanto quanto evidente. E isso não chega a ser um demérito. Afinal, hoje em dia é de praxe dos grandes canais de streaming. Porém, ao subir dos créditos de Barba Ensopada de Sangue, a sensação é de que faltou alguma coisa.

Gabriel Leone protagoniza a história de um gaúcho que procura suas origens

A história gira em torno de Gabriel (Gabriel Leone). Ele sai do Rio Grande do Sul depois de uma grande perda, e vai para a praia da Armação, em Santa Catarina. Lá ele quer buscar respostas de seu passado recente, de seu pai, mas principalmente de seu avô, conhecido como Gaudério. Seu avô tem uma história trágica nesta praia, onde foi um exímio caçador de baleias (quando isso ainda era permitido) que sofreu um revés, que provavelmente abreviou sua vida. Mas não sabemos muito sobre tudo o que aconteceu. Apenas que uma grande tragédia está envolvida. Calcado nesse thriller de mistério, acompanhamos Gabriel o tempo todo. Leone é uma das estrelas atuais do cinema brasileiro e internacional, sempre entregando muito em sua atuação. Nasceu para ser protagonista. Thainá Duarte faz bem seu papel de coadjuvante, entregando ao público Jasmine, a guia de turismo que já grávida, vai se envolver a fundo com o forasteiro gaúcho. E trouxe o sotaque catarinense com maestria.

Tudo ao redor de Gabriel é soturno. A fotografia é bem escolhida, e, apesar do filme se passar em uma praia, parece que estamos passando por um longo inverno. A luz é escassa e os personagens, tal qual o clima, são sombrios. O filme não se preocupa em nos contar as coisas com clareza. Faz parte do clima, das escolhas, do livro, e do diretor. E isso até poderia ser um ponto positivo … mas tudo tem um limite. As explicações estão nos detalhes e faz parte da proposta deixar tudo em um grande espaço aberto, que será desenvolvido ou desvendado de acordo com o espectador. Na verdade, como o personagem principal sofre com prosopagnosia (uma espécie de cegueira visual), da qual não se lembra do rosto das pessoas, é um mote evidente para toda a leitura da história. Tudo está muito borrado e sem clareza.

O ponto que deixa a experiência de Barba Ensopada de Sangue instigante, no entanto, também pode jogar contra. Se existe um equilíbrio entre mistério e resoluções, a sessão ultrapassa um limite delicado, que talvez não agrade a todos. O clímax é um acerto, fazendo jus ao seu título, em uma cena bem colocada, onde Gabriel Leone se destaca. No entanto, depois de tudo, a recompensa final não é a mais aguardada. Talvez, justamente por Aly Muritiba ter entregue tanto nos últimos anos, minhas expectativas estivessem altas demais. Até por isso, a ideia de que a produção terá vida tão somente nos serviços de streaming. Veremos. O longa ainda não tem data de estreia.

Veredito da Vigilia

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