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O Menu: horror, subversão e um toque de alta gastronomia

A primeira vista – ou melhor – pela sinopse e pelo material de divulgação, imaginava que O Menu seria um filme de detetive estilo “whodunnit” – como Entre Facas e Segredos, um dos melhores no estilo nos últimos anos – ou uma trama a la Agatha Christie com alguém desvendando as mortes ao longo de um jantar.

No entanto, o filme subverte bastante as expectativas ao estar no limiar do horror psicológico e do suspense com toques de comédia. Logo de cara, a direção nos coloca dentro da ação do filme, onde o jovem casal Margot (Anya Taylor Joy) e Tyler (Nicholas Hoult) está a caminho de uma ilha para um jantar num restaurante de um chef de cozinha “superstar”. O longa, que chega aos cinemas brasileiros no dia 1º de dezembro, tem direção de Mark Mylod, conhecido por seus trabalhos recentes em séries como Game of Thrones e Sucession.

O que é mais interessante é o fato de que nada sabemos sobre os 12 personagens que entram no barco para chegar até seu destino na ilha de Hawthorn e no restaurante que atende sob reservas bastante restritas. Aos poucos, a narrativa vai desvelando seus comportamentos e mesmo com poucas pistas sobre suas identidades o quebra-cabeça vai se montando.

Nesse contexto, além do casal e da atuação de Anya Taylor Joy que vai crescendo juntamente com a tensão, o destaque fica por conta do chefe “contador de histórias” Julian Slowik, interpretado com maestria por Ralph Fiennes em uma versão tanto caricata – no bom sentido – quanto apavorante à medida em que os pratos e as revelações vão caindo feito bombas a cada seqüência. No papel de Elsa, a assistente do chefe – a excelente atriz Hong Chau (coadjuvante na série de TV Watchmen) – traz o elemento necessário ao contraponto do peso de Slowik com humor sarcástico e perspicácia sobre as motivações dos convidados.

Nesse ambiente de aparências que vão sendo reveladas ao longo de um jantar, e guardadas as proporções históricas, geográficas, mercadológicas e estéticas, “O Menu” me lembrou uma espécie de versão mais light e pop de “Discreto charme da burguesia”, filme do cineasta espanhol naturalizado mexicano Luis Buñuel de 1972. Obviamente que “O Menu” não é um filme surrealista, mas traz críticas bastante interessantes aos comportamentos e classes sociais, além de um toque de psicopatia que vai sendo construído muito através dos sons e guiado em alguns momentos pelo ponto de vista de Margot, um “peixe fora d’água” em um jogo de tubarões.

O Menu nos oferece um ótimo entretenimento e muitas tiradas certeiras e personagens que parecem saídos da galeria dos mais esnobes estereótipos da ficção – mas que funcionam na arquitetura do filme entre o horror e a comédia – como a crítica de gastronomia Lilian Bloom (interpretada pela atriz britânica Janet McTeer) e o ator canastrão em fim de carreira que sequer é nomeado, interpretado por John Leguizamo.

O filme funciona bem em sua simplicidade, além de deixar lacunas para que a audiência complete algumas questões, o que nesses tempos de entregas massivamente explicadas de todo produto da cultura pop é um respiro!

Veredito da Vigilia

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