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Muralla é cruel e violento. E infelizmente, real | Crítica

Exibido na 47ª edição do Festival de Cinema de Gramado, “Muralla”, dirigido por Gory Patiño, traz um visão cruel – e bem próxima da realidade – de uma sociedade com problemas.

Acompanhamos a história de Jorge “Muralla” Rivera, um ex-goleiro de futebol que teve sucesso no passado, mas que agora dirige uma van para tentar pagar as contas do hospital para seu filho doente. Seu filho precisa de um transplante e Jorge tenta arrumar dinheiro para conseguir fazer com que ele fure a fila. É assim que Muralla acaba envolvido em um esquema de tráfico humano muito maior do que ele poderia imaginar.

Gory traz uma realidade cruel e violenta de uma sociedade que quase normaliza os crimes que acontecem no cotidiano. Quando Muralla começa sua busca para corrigir o erro que cometeu, podemos ver vários corpos sendo desovados em diferentes partes de uma periferia, e em nenhum momento qualquer outro personagem faz algum comentário sobre isso, mostrando uma quase normalidade da situação.

Aliado a essa realidade brutal, temos uma espécie de mística fantasiosa que acompanha o desenvolvimento do filme. Em diversos momentos um tipo de nativo boliviano aparece para Muralla, como se fosse uma representação da morte ou um mensageiro. Não fica exatamente explícito o quê ou quem aquele personagem é, porém, sua montagem é dada com tanto refinamento que o público não precisa que ele fale ou se expresse para que seu papel seja entendido.

“Muralla” está concorrendo da categoria de Longas Estrangeiros

Outro ponto a ser destacado é como Gory fez uma história ampla e que, mesmo assim, funciona. Todas as partes que ficam abertas, como qual é a doença do filho de Muralla ou o que aconteceu no passado para o ex-jogador estar daquela forma, são absorvidos quase que organicamente, como se fosse uma coisa que a audiência já sabia de antemão. O filme não entra nesses detalhes pelo simples fato de que esse não é o foco. E, ainda assim, o enredo faz sentido.

É importante não chegar esperando uma história de heróis com finais felizes, muito comum em Hollywood. “Muralla” mexe com medos comuns e exibe uma sociedade que está a mercê de questões muito maiores.

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Veredito da Vigilia


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