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Motel Destino: cor, calor e drama na noite gelada de Gramado

Direto de Gramado

Depois de passar pelo festival de Cannes, o novo filme do diretor Karim Aïnouz (A Vida Invisível), fez sua estreia nacional na abertura do 52º Festival de Cinema de Gramado. E trouxe cor, calor e muito drama para a fria noite de Gramado, que registrou mínimas de 4ºC. Na plateia do festival, no entanto, a recepção não parece ter sido tão marcante quanto Cannes. O longa, como o próprio diretor sugere, é uma mistura de gêneros como pornochanchada com noir, o que na verdade, é um ótimo resumo da obra. O seu diferencial está na brasilidade e visceralidade, além de um ótimo tripé de atores: Fábio Assunção na pele do “corno revoltado” Elias, ao lado do protagonista e estreante Iago Xavier como Heraldo, e Nataly Rocha como Dayana.

O longa inicia com o aviso de precaução quanto a luzes estroboscópicas, que eventualmente possam causar algum enjoo no público. Mas fique tranquilo, isso não chega a ser um problema. É sim um recurso de alucinação que serve justamente para pesar o clima dramático junto aos personagens principais. O problema maior dessas luzes e som vem ao subir dos créditos, quando o uso do recurso é realmente amplificado. Este quesito estético é um ponto marcante do longa, casando paleta de cores vibrantes com o calor de uma cidade do interior do Ceará e os corredores de um motel que seria facilmente fechado pela Vigilância Sanitária. O contexto remonta também uma pegada mais visceral e sexual, casando bem com as pitadas mais apimentadas que a história impõe. 

Na trama acompanhamos Heraldo, um jovem adulto errante, que logo ao ser apresentado já vive sua primeira grande perda. Primeira em quantidade, mas única explicitamente apresentada por Aïnouz. Seu envolvimento com o tráfico e um atentado quanto a um “inimigo de sua gangue” o empurram diretamente para o Motel Destino, fazendo jus ao nome do longa. É lá que a trama cresce, com o acréscimo de Elias e Dayana. O clima entre os três vai nos jogar para várias possibilidades, mas nem todas que possamos imaginar vão se concretizar.

Quase conservador

Motel Destino de Karim Aïnouz
Fábio Assunção, Iago Xavier e Nataly Rocha centralizam o desenrolar de Motel Destino

Neste aspecto, Motel Destino é quase conservador. E é interessante usar essa palavra em um contexto de um filme que remonta sim às pornochanchadas brasileiras, mas que usa esse recurso de forma menos contundente. O clima de paranoia é o que faz prender nossa atenção, fazendo o público buscar a todo momento um quadro que só ficará completo ao final da projeção. Nesse sentido, a palavra “conservador” foca muito mais na questão que o sexo utilizado entre o quase trisal não é o que vai prioritariamente chocar o público. O cinéfilo um pouco mais apurado já terá uma bagagem de filmes muito mais pesados neste quesito. 

Um dos pontos positivos de Motel Destino é seu dinamismo e justamente fisgar a atenção do público. Nem todas as respostas serão expostas, alguns personagens vão sair de cena e não terão um desfecho tão favorável, mas o foco estará em Elias, Eraldo e Dayana. A obra sai do marasmo que eventualmente toma conta de produções nacionais (e até mesmo da carreira do diretor), entregando um ótimo thriller-erótico e apresentando duas novas estrelas, além de consolidar o trabalho incrível de Fábio Assunção. Sua interpretação ao lado de Nataly Rocha é um dos grandes tesouros ao público. O final bebe um pouco da fonte do cinema fantástico, entregando uma sólida exibição, daquelas que vale a pena conferir na tela grande. 

Motel Destino tem estreia prevista para dia 22 de agosto.

Veredito da Vigilia

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