Mocinhos e bandidos têm os lados trocados em Mobile Suit Gundam Hathaway
Depois de estrear nos cinemas japoneses em junho, chegou no dia 1º de julho, na Netflix, o longa-metragem animado Mobile Suit Gundam Hathaway, continuação direta de Char Contra-Ataca, lançado em 1988, que por sua vez se passa após a trilogia original da franquia Gundam, que compila a primeira temporada do anime que estreou em 1979.
Não se preocupe. Todos esses filmes estão disponíveis na Netflix, o que facilita o entendimento da história de Hathaway, que é uma adaptação do mangá Mobile Suit Gundam: Hathaway’s Flash, de 1989. A publicação teve três volumes, o que nos leva a crer que teremos uma trilogia de filmes.
Bom, chega de explicação e vamos ao filme de 2021, que está muito bem animado pela Sunrise (o mesmo de Cowboy Bebop) e que sempre cuidou das produções de Gundam. Hathaway se passa no ano 105, ou seja, 12 anos depois do plano de Char para destruir o nosso planeta ter falhado, com a vitória da Federação da Terra. O jovem Hathaway Noa, filho de Bright Noa está em um avião vindo do espaço em direção a Hong Kong, mas o seu voo é atacado por terroristas, que dizem ter ligações com Mafty Erin, um rebelde que pretende continuar os ideais de Char. É nesse clima tenso que Hathaway conhece o militar Kenneth e a misteriosa e sedutora Gigi. O triângulo amoroso emula um pouco do que vimos com Amuro, Char e Lalah, na série original. Sem falar que nosso protagonista se aproxima de Gigi por fazê-lo lembrar do jeito extrovertido e rebelde de Quess.
Após terem um pouso forçado em Davao, o trio continua envolvido nessa tensão entre a Federação e os terroristas a serviço de Mafty. Não posso revelar muita coisa, pois acabaria entregando um spoiler (presente no primeiro arco do filme), mas posso adiantar que os mocinhos desta vez são os rebeldes, em um clima meio Star Wars, já que seus planejamentos e ações acontecem na surdina. Fique calmo, porque mesmo assim temos um Gundam como protagonista (o que não poderia ser diferente devido ao nome do longa).
Gosto muito do peso que Gundam Hathaway deu às batalhas, pensando nos civis envolvidos, mesmo quando estes são efeitos colaterais. A trilha sonora e os enquadramentos de câmera estão ótimos, bem como a coloração dos cenários. Provavelmente o único defeito do filme seja na parte das lutas, que são em sua maioria, noturnas. Isso dificulta a visualização dos Mobile Suits (que estão com o design cada vez mais complexo), que tem pouco tempo de tela na primeira metade do filme e não chegamos a ver eles detalhadamente em nenhuma cena quando a briga realmente acontece. Meu palpite é que as luzes provenientes dos propulsores, canhões e sabres a lazer tiveram um maior destaque com essa fotografia. Mas no final das contas, a gente quer ver os robozões.
Mobile Suit Gundam Hathaway é nostálgico e audacioso ao mesmo tempo. Não é apenas no traço dos personagens e das armaduras de voo que ele se atualiza, mas também no lado que escolheu contar a história. Essa é a prova de que em uma guerra não temos apenas um lado para chamar de certo, mas sim, dizer que o maior erro de todos é a guerra em si.