Marte Um me deixou sem palavras
Queria ter falado muitas coisas sobre Marte Um, mas me faltaram palavras. Por quase uma semana, sentei para escrever a crítica e não consegui. Apaguei uma, duas, três… seis vezes um começo. Porque eu não queria escrever uma crítica, eu queria contar meu sentimento sobre esse filme.
Não se preocupem com spoilers. Já adianto que Marte Um não tem sua experiência prejudicada caso você já saiba o que vai acontecer. É um filme que se sente. Que papo de cinéfilo, né? Mas é exatamente isso.
Todos os anos, no Festival de Cinema de Gramado, eu assisto algum filme que me faz chorar e ficar com vontade de ligar para a minha família. Aconteceu isso em Como Nossos Pais, em Benzinho e, este ano, em Marte Um. No momento em que terminou, eu mandei mensagem para a minha mãe. Porque aquele filme era sobre a gente. E é sobre você, que faz parte de uma família totalmente brasileira. (Mas ninguém aqui fala em família tradicional, ok?).
Eu cresci numa família de classe média. Mãe professora, pai administrador. Sempre vi meus pais fazendo esforço para chegar tudo certo no final do mês. Um esforço silencioso. Diante de tudo que acontecia, minha mãe dizia que “a gente vai dar um jeito”. Ela fala isso até hoje. E eu, às lágrimas, escrevo e confesso que já me peguei falando isso muito depois que virei adulta. Eu sempre tive o otimismo dela e repito, diversas vezes, que “a gente vai dar um jeito”. E, magicamente, a gente sempre dá.
Esse gancho me leva à outra cena, que me fez chorar de um jeito que eu não queria naquela primeira fileira de imprensa. Escutar a mãe da família falando que “pelo menos a gente tá vivo” me pegou. Isso é outra coisa que minha mãe fala em todos os piores momentos. “Pelo menos a gente tá vivo e com saúde, o resto a gente conquista”.
Um pouco sem jeito, confesso que faz pouco tempo que comecei a virar adulta. Responsável pelas minhas contas, pelas minhas escolhas, pela minha vida. E quando isso aconteceu, eu me dei conta que é nessas esperanças do dia a dia que a gente precisa se agarrar. É nessas crenças. Que vai dar certo. Que a gente vai dar um jeito. Que pelo menos a gente tá vivo. Né, mãe?
Marte Um é um bom concorrente ao Oscar. Afinal, ele conta a história de uma família que pode ser a minha família. Tanto a de nascença quanto a que estou construindo. Gabriel Martins contou de uma forma poética a rotina de uma família de classe média de Minas Gerais, mas que tem questões que se aplicam a todo Brasil. Gerou identificação. Me fez chorar. E me deixou sem palavras durante bastante tempo. Logo eu, que ganho a vida escrevendo.