Terror sombrio em Maria e João: O Conto das Bruxas | Crítica
Ao se deparar com um filme de terror baseado na história clássica de João e Maria, você possivelmente pode fazer uma conexão errônea. Fica fácil julgar mal uma obra que talvez tivesse tudo para cair nos escapismos que vemos frequentemente no gênero. Felizmente, Maria e João: O Conto das Bruxas, não é nada disso que você pode estar pensando. Essa adaptação sombria que estreia no Brasil no dia 20 de fevereiro, tem uma assinatura muito própria, com estilo, seja no uso das sombras, com o jogo de cores e a música. Jogando com tudo que conhecemos da clássica história dos Irmãos Grimm, essa releitura tem tudo para marcar o terror em 2020, além de trazer o diretor Oz Perkins e o roteirista Rob Hayes para mais trabalhos na área. No entanto, não é aquele filme de fácil digestão. Maria e João: O conto das Bruxas, é diferente e coloca a atriz Sophia Lillis em mais um grande papel.
Como já se espera, os dois jovens precisam sair de casa. Mas aqui, desde cedo, não temos a ternura que pode estar intrínseca à sua memória afetiva com o conto. As primeiras cartas colocadas na mesa nos remetem realmente a um filme de terror e os irmãos Maria (Sophia Lillis) e o irmão mais novo, João (Sammy Leakey) terão que se jogar em uma jornada de sobrevivência. E essa sobrevivência começa em casa, passa pela própria alimentação (ou falta dela) e uma jornada que brinca com o sobrenatural. O tom sombrio e escuro (gótico?) impera, e temos a crueza de um mundo que explora as mulheres e as crianças e encaramos pessoas e criaturas estranhas. Assustadoramente estranhas.
Maria emula uma predestinada. Mostra personalidade e um tipo muito interessante de empoderamento – que é uma das tônicas do filme – não por acaso, é o nome dela que está na frente no título. O protagonismo fica todo nas costas de Sophia Lillis, que entrega uma atuação acertada, ao ponto que cativa, impressiona e também assusta. Após os primeiros confrontos, todos absurdamente estranhos, até mesmo dentro de sua antiga casa, o casal de irmãos vai enfrentar uma floresta fria e escura. Nela, vamos nos compadecer das necessidades deles, amplificada pela presença de João, um menino com seus 7 para 8 anos. Nos momentos de fome, presenciamos até mesmo um respiro de psicodelia.
Mas é no tom e no estilo que Maria e João: O Conto das Bruxas, cresce. Distanciando-se do cinema gore ou trasher, ele está muito mais para um Midsommar ou mesmo um Hereditário do que um Halloween, por exemplo. A trilha sonora é marcante e assustadora em vários momentos, assim como a estranheza dos personagens, dos cenários e do sobrenatural, que não se preocupa em aprofundar em grandes detalhes as situações bizarras que possam acontecer. Nesse contexto, temos somente uma história de background para nos incitar o que pode estar acontecendo naquela realidade (mas será que é tudo real?). E no papel da senhora (ou a bruxa) temos Alice Krige, que mescla também o estilo que nos assusta por sua proposta estranha de se mostrar. E na casa dela, obviamente, nada é o que parece.
Apesar de pouco tempo de filme (1 hora e 27 minutos), o ritmo é lento, o que pode incomodar aquele espectador mais acostumado com os ritmos frenéticos apresentados pelos grandes lançamentos. Mas é ele também que acrescenta à Maria e João o seu charme próprio, que, depois disso, basicamente faz bem o uso de várias técnicas conhecidas no gênero de terror: as cores (destaques ou falta delas), jump scares acertados (que funcionam organicamente com as cenas e a própria trilha sonora), a sensação de frio e isolamento dos personagens e um tipo de vilão que nos deixa com uma pulga atrás da orelha o tempo todo. E com tudo isso, consegue assustar de formas mais autênticas e não apelativas, ao mesmo tempo que dá um recado importante para o fortalecimento feminino.
É interessante perceber que este ‘tipo de estilo’ parece crescer dentro do próprio gênero. E quem ganha, somos todos nós!
A Vigília Recomenda!