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Mãe! O novo e arrebatador longa de Aronofsky | Crítica

Você vai precisar de um tempo. Talvez um bom tempo até se recuperar de Mãe!, novo longa do aclamado (e único) diretor Darren Aronofsky. O diretor de excelentes obras como Réquiem Para Um Sonho (2000) e o oscarizado Cisne Negro (2010) retorna com sua marca registrada nesta nova produção, que estreia dia 21 de setembro. E sua marca (aliás, uma das várias) é desconcertar. Te tirar da zona de conforto. Muitos podem até não gostar (fica bem fácil na sociedade de “fiscais da arte” em que vivemos), mas é certo que você vai sair da sala escura com várias sensações. E muitas delas podem ser incômodas. Mas é exatamente para isso que algumas manifestações culturais servem. E é ótimo que isso aconteça. Aronofsky vai ferrar a sua mente (de novo!).

Aronofsky vislumbrando a melhor forma de ferrar a sua mente

Em Mãe! temos a reunião de vários ingredientes que temperam uma mistura desconcertante e agressiva. E para isso a escolha do diretor foi certeira. Colocou Jennifer Lawrence, 27 anos, a atriz da moda, a mais bem paga de Hollywood, a queridinha, em um papel desafiador e que lhe dá toda a oportunidade para disputar seu segundo Oscar de melhor atriz em março de 2018 (ela já ganhou por O lado bom da Vida, e recebeu outras indicações). E o melhor dessa escolha é que ela novamente sai da linha de filmes do senso comum. Ponto para Aronofsky e Jennifer. Outra grande escolha foi por Javier Bardem. Perfeito em sua encarnação e oscilações entre amor, ódio, cinismo, terror e alegria. Impossível não se afetar com seu sorriso que mistura todas essas emoções. E eles são amparados por um elenco tão bom quanto: Ed Harris, Michelle Pfeiffer e Domhnall Gleeson (recentemente no ótimo Feito na América). Um grupo pra lá de seleto. E prepare-se, nenhum estará na tela para te agradar.

Jennifer e Bardem, os personagens sem nomes

Logo de cara Aronofsky coloca suas mangas de fora. As imagens e efeitos especiais que misturam o filme entre realidade e fábula estão lá (outra marca do diretor). E como diria Raul Seixas, tudo acaba onde começou. Lembre dessa frase após o filme. A linha narrativa é um clássico “Era uma vez…”, uma escolha que te joga para um lugar que você não conhece e não vai se importar com isso. Joga todos para uma história onde as pessoas não tem nome, e isso abre as mais longas margens de interpretação. As pistas serão dadas durante todo o filme. E se você prestar atenção na crítica, não vai estranhar se os fiscais da “moral e dos bons costumes” e os cidadãos “de bem” iniciarem um movimento para tirar o filme de cartaz. Em Mãe! a história e as escolhas de Aronofsky vão te dar uma surra.

Jennifer carrega todo o fardo do filme nos ombros

Preocupada com o lar, reconstruído com muito esforço após um incêndio, Jennifer e Bardem formam um casal que logo de cara é questionado pelos visitantes indesejados. A casa torna-se também um personagem à parte, que vai sofrendo junto com a personagem central. E vai sofrendo cada vez mais com a fama do poeta (!?!) Bardem e seu anseio por adoração. Uma gravidez aparentemente supera os desafios e conflitos iniciais. Mas os visitantes indesejados retornam e invadem a casa de forma ainda mais agressiva do que na primeira vez. As loucuras crescem em paralelo ao desejo de adoração do marido poeta (!?!) ao ponto que chegamos a cenas vistas diariamente em todo o mundo real. Guerra, adorações, cultos, brigas, tragédias e espancamentos. Tudo isso em um único cenário, onde a Mãe apenas quer privacidade e paz para ter e criar seu filho. A figura protetiva que tanto conhecemos.

A narrativa passa de um thriller de suspense para uma fábula visceral e brutal. As cores e as tomadas não se preocupam em ser lindas ou ótimas fotografias. A crueza impera e joga para Jennifer toda a carga emotiva que se pode ter em um só filme. Uma série de socos e tapas na cara de quem assiste (e não só quem assiste) nos empurram num abismo em queda livre. E a nossa mente fica um tanto bagunçada. Os cacos nós vamos juntando lentamente após acenderem as luzes. O silêncio vai nos perseguindo até que possamos tentar verbalizar as primeiras reações e emoções. E muito provavelmente elas serão únicas para cada espectador.

Assista!

2 comentários sobre “Mãe! O novo e arrebatador longa de Aronofsky | Crítica

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