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Kingsman: o Círculo Dourado: Diversão com uma dose de crítica

O mundo do cinema criou, com o tempo, algumas teorias, principalmente para as franquias. Uma delas é de que as continuações nem sempre são tão certeiras como os filmes de origem. Felizmente, essa teoria é totalmente rechaçada em Kingsman: O Círculo Dourado, continuação de Kingsman: Serviço Secreto (de 2014). O filme que literalmente explodiu cabeças pedia uma continuação. E ela veio em grande estilo, com um elenco de peso, recheada de boas ações, referências ao original, a costumeira diversão e uma certa dose de crítica social. Tudo isso costurado em 2h20min de filme que passam voando e aquela conhecida elegância inglesa. A estreia é dia 28 de setembro.

Kingsman: elegância inglesa.

E pra falar de Kingsman, temos que abrir espaço para o diretor Matthew Vaughn. O inglês de 46 anos é aquele tipo de cara que não pode parar de fazer filmes. Não consigo lembrar de nenhuma produção que ele liderou e que não tenha sido no mínimo satisfatória. Cito: Kick-Ass: Quebrando Tudo (2010), X-Men: Primeira Classe (2011), e claro, Kingsman, de 2014. Cada vez mais consolidado, ele já é cotado para encabeçar o próximo filme do Superman nos cinemas, o que seria um tanto interessante. Outro aspecto importante para se ressaltar antes de entrar na trama é o elenco. Além do mocinho Eggsy (Taron Egerton) e a volta de Harry (o vencedor do Oscar, Colin Firth), você pode anotar e apreciar as presenças dos também oscarizados Jeff Bridges e Halle Barry, do sr. Narcos, Pedro Pascal, Channing Tatum, Mark Strong e a participação especial e marcante de Sir Elton John. Não é pouca coisa.

Aquele elenco que você respeita: Pascal, Halle, Tatum, Egerton, Strong, Firth, Bridges, Juliane e Sir Elton John

Se em 2014 Matthew Vaughn consolidou a adaptação dos quadrinhos de Mark Millar e a transformou em uma grande bilheteria, o mesmo deve acontecer agora. Cheio de referências ao episódio anterior, o diretor traz toda a fórmula do sucesso de volta. Mas agora, a missão ficou mais difícil. Logo na abertura a vilã norte-americana Poppy (Juliane Moore) envia seus lacaios e acaba de uma vez só com o serviço secreto britânico Kingsman. Ela recruta Charlie (Edward Holcroft), um dos agentes descartados pelos Kingsman no primeiro filme. E ele quer vingança do ex-amigo Eggsy – leia-se: garantia de boas cenas de ação – . Somado a isso, Poppy lança mão de um plano maligno. Como ela é líder da maior gang de narcotraficantes do mundo, infecta seus produtos com um vírus letal. Todos que consumiram seus produtos vão morrer. A menos que o presidente dos Estados Unidos legalize de vez por todas todos os tipos de drogas. Assim ela será reconhecida como uma das maiores empresárias de todo o mundo. Sem base e instrumentos para reagir, Eggsy e Merlin (Mark Strong) descobrem um outro serviço secreto que pode lhes ajudar: a Statesmen. E como fica na cara, é o paralelo norte-americano do serviço secreto britânico. Se antes o negócio era brincar com os estereótipos ingleses, agora temos também ironias com a terra do Tio Sam.

Ingleses vão na elegância. Americanos não são tão sutis, como mostra o agente Whisky (Pedro Pascal).

Em todo esse processo, várias histórias correm em paralelo. E aqui é interessante notar algumas metáforas com o mundo real e algumas críticas sociais. Mesmo com muito humor, cenas de lutas movimentadas e aquela diversão típica para comer pipoca, Vaughn conseguiu aparar a criação do quadrinista Mark Millar de uma forma brilhante. Temos a relação da legalização de drogas, um tanto debatida em todo o mundo, e que teoricamente acabaria com várias facções criminosas e o seu comparativo com drogas “legais”, tais como o álcool (e até mesmo o açúcar!). E temos também a relação de discriminação da sociedade por parte de quem não pensa igual aos outros. O recado direto para atuais governantes e o trato com as minorias e a criminalização das pessoas. Infelizmente um pouco do pensamento de parte da sociedade: é melhor deixar as pessoas morrerem, é melhor acabar de vez com tal parcela do mundo, e esse tipo de falta de empatia, pra não falar o pior.

Apesar da crítica intrínseca, é possível distinguir algumas ironias também. Da mesma forma que tenta contemplar vários públicos – homossexuais (as cenas com Elton John são ótimas, e querendo ou não buscam algum tipo de ação afirmativa); mulheres (e a possível vitória da personagem de Halle Barry) e descriminalização das drogas –  o filme se coloca no paradoxo de ser ao mesmo tempo machista, fazer piada com gays e dar um sinal de que é melhor não mexer com qualquer tipo de droga, mesmo que todos os personagens vivam bebendo algum destilado. Enfim, não dá pra ser tudo ao mesmo tempo, não é mesmo?

A julgar pelos trailers e pela escalação do grande elenco, confesso que temia um pouco por esta continuação. Mas, felizmente Vaughn acerta a mão como sempre. Você vai rir, se envolver, curtir e, claro, querer mais logo após os créditos começarem a subir. E pode esperar, que teremos mais Kingsman em um futuro muito próximo. Queremos!

Veredito da Vigilia

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