Grazi Massafera estreia em Gramado com “Uma família feliz”
Mostrando a diversidade do cinema nacional, a quinta noite do 51º Festival de Cinema de Gramado apresentou um thriller. Em “Uma Família Feliz”, temos um gênero muito apreciado pelos brasileiros, mas nem sempre explorado por diretores e cineastas. E a novidade, ainda sem data de estreia, tem explicação. A obra tem origem no argumento e roteiro do escritor Raphael Montes (de livros como Dias Perfeitos, Jantar Secreto e Bom Dia, Verônica, que já virou série na Netflix). Protagonizado por Grazil Massafera (é sua estreia no tapete vermelho do maior festival de cinema do Brasil) e Reynaldo Gianecchini, o longa é dirigido por José Eduardo Belmonte (O Pastor e o Guerrilheiro).
A trama mostra o que se imagina no título do filme, que tem 1h55 de duração. Gianecchini é Vicente, um zeloso pai de família, casado com Eva, interpretada por Grazi Massafera, que protagoniza bons momentos em tela. Completam o núcleo familiar as gêmeas Sara e Ângela, além do recém chegado, o bebê Lucas. A princípio, caracterizam a típica família de comercial de margarina, mas, estamos em um thriller e alguns segredos do passado vão se revelar aos poucos. Como o filme ainda não tem data de estreia, não seria sensato da minha parte revelar esses aspectos.
O que deveria ser um momento especial para a família, a chegada do irmão caçula, acaba se tornando o início de um pesadelo. O filme explora bem as possibilidades que um novo membro da família impacta com sua chegada. As rotinas mudam, o sono fica menor, e o nível de estresse pode aumentar vertiginosamente se não houver uma boa rede de amparo. Neste aspecto, talvez o filme oscile um pouco. Claramente estamos diante de uma família com excelentes condições de vida, que reside em um condomínio de classe média alta em Curitiba, embora o roteiro coloque uma condição de que não há a mínima possibilidade de que Eva e Vicente contratem uma babá.
O tom de aflição dentro da casa aumenta quando as crianças começam a aparecer com marcas de violência. Isso incluindo até mesmo o pequeno Lucas. Acrescente ao caldeirão os tais dramas do passado e a condição de Sara, que padece de um câncer e tem sua saúde um tanto abalada com o passar do tempo.
Quem é o vilão?
A construção de Montes e Belmonte passa a colocar em xeque, é claro, a mulher da família. Sempre mais fácil (e isso não é uma crítica ao filme, e sim ao machismo estrutural em que vivemos). Alguns relances nos dão a dica do porquê as filhas passam a acusar Eva. O jogo de “quem é o vilão” se estabelece, mas é provável que o cinéfilo mais atento já mate a charada antes da revelação final.
Uma Família Feliz é um filme bem conduzido e com atuações interessantes, mas, assim como um thriller, parece prometer mais do que entregar. É um filme com o clássico “plot-twist”, e para isso, é necessário ficar até o final dos primeiros créditos. Talvez a experiência em Gramado tenha sido menos impactante pelo fato de que o próprio Montes pediu para que todos “ficassem até o final do filme”, já entregando que haveria uma importante reviravolta, como lembrou o colega Rodrigo Oliveira da Almanaque21, logo ao final da sessão. Adicione a isso o fato de que o filme é um grande flashback depois da cena inicial.
De qualquer forma, Uma Família Feliz tem os ingredientes necessários para fazer uma boa carreira no circuito comercial. Um thriller é sempre um thriller.