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Freaks – Um de Nós: poderes e quadrinhos made in Alemanha

Uma das estreias da Netflix em setembro veio embrulhada numa embalagem chamativa para o zeitgeist de 2020 (ou dos últimos anos). Aliás, é legal usar essa palavra, afinal, estamos falando de Freaks: Um de Nós, uma produção vinda da Alemanha com co-produção da própria Netflix. E essa embalagem consiste em (1) uma empresa sombria que faz experimentos (ou tenta domar) pessoas que (2) possuem poderes especiais, bem na vibe que conhecemos nos quadrinhos dos X-Men, aliás, (3) quadrinhos também estão bem presentes no filme dirigido por Felix Binder. Esses itens compõem também uma ideia do tão falado “algoritmo” do serviço de streaming, fazendo uma mescla de assuntos que possam atrair o público.

No meio desse contexto temos a personagem Wendy (Cornelia Gröschel), uma mãe de família, garçonete de uma rede de fast food, e que está prestes a ser despejada, mas que descobre que possui super-poderes. E claro, depois de um susto inicial, ela começa a usar isso para benefício de sua família, ao mesmo tempo que descobre que existem muitos outros como ela. Junto de seu colega Elmar (Tim Oliver Schultz), que faz as vezes do personagem nerd de plantão, que também descobre que tem poderes, ela se vê atraída para uma missão secreta envolvendo a empresa que, até então, pretendia ocultar os poderes deles com um tratamento psicológico e neurológico.

Como já deu pra perceber, Freaks tem seus apelos, mas acaba não explorando da melhor forma a sua própria proposta. Mesmo óbvio, o roteiro poderia criar situações mais interessantes, e os recursos, embora honestos, lembram muito um piloto de uma série – com direito a cena pós-créditos. E como recentemente tivemos uma série alemã de muito sucesso (Dark), talvez a ideia de explorar a história em forma seriada seja mais adequada para o tamanho do “universo” apresentado aqui.

Uma heroína que antes de tudo é mãe e atendente de uma rede de fast food

E já que estamos em uma produção européia, vemos muitas referências ‘diferentes’, tanto na trilha sonora quanto nos próprios ambientes e cenários (casas, laboratórios, restaurantes e escola), o que torna a experiência ainda mais interessante. Quanto aos personagens, é instigante perceber que, ao invés de termos pessoas “dentro dos padrões”, acompanhamos uma heroína que é uma mãe de família passando dos 30, que tem seu filho que sofre bullying dos vizinhos e o pai como um segurança particular bem fora de forma. Mas como tudo se passa na Alemanha, a diversidade fica um pouco de lado, ainda que possamos ter um gancho com um vislumbre de novos personagens ao final da saga.

Embarque em Freaks assim como na maioria das produções da Netflix: nada de grandes expectativas! O filme tem seus atrativos, mas é entretenimento puro e simples, aquele escape da realidade em tempos de pandemia. É competente, mas pensar que ele é um piloto de uma série ao invés de um um filme só, parece funcionar bem melhor.

Veredito da Vigilia

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