Era uma vez … em Hollywood, mais Tarantino por favor! | Crítica
Mais uma obra do diretor Quentin Tarantino chegou para o deleite dos cinéfilos. Desta vez, em Era uma Vez … Em Hollywood (Once Upon a Time in Hollywood) temos uma ode à Los Angeles do final dos anos 60, onde se misturam luzes, cores, dramas e a própria história do cinema e seus bastidores. É neste oceano em que você vai mergulhar ao entrar na sessão. E vai mergulhar com tubarões como Leonardo DiCaprio, no papel do astro de Western Rick Dalton e seu dublê Cliff Booth, interpretado por Brad Pitt. Completa o elenco principal Margot Robbie (Eu, Tonya), em uma ponta mais do que especial como a atriz Sharon Tate, esposa de Roman Polanski que foi brutalmente assassinada pelo serial killer Charles Manson (interpretado por Damon Herriman, que vai repetir a dose na segunda temporada de Mindhunter). Mas calma, como sempre Tarantino não será óbvio na história que vai contar.
“Era uma vez… em Hollywood” é literalmente um passeio por Los Angeles. O espectador entra no carro de Rick Dalton e passa pelos estúdios, centro da cidade, bairro de Hollywood. Depois entra no carro de Cliff Booth e conhece outros cenários. E claro, pega carona com Sharon Tate e conhece outro bocado da cidade, sempre com muita cor e luzes, por onde quer que se vá. A cidade, portanto, é basicamente uma das personagens principais de Tarantino, que, assim como em Oito Odiados, cozinha tudo em fogo baixo. Com duas horas e quarenta e um minutos de produção, percebemos que a intenção é realmente contemplar tudo e todos que aparecem em suas lentes. Ora vemos o carro chegando. Ora vemos o carro com câmera invertida. Ora um detalhe dele chegando, e por aí vai. E como estamos em carros no final dos anos 60, mais precisamente 1969, pegamos caronas bem radiofônicas, com uma série de músicas da época que iniciam e terminam ao toque dos atores no dial. Além da cidade, parte da história do cinema norte-americano e da cultura pop da época também é bem representada. Temos Bruce Lee (Mike Moh), Steve McQueen (Damien Lewis) e outros figurões da época.
Os atores, como se pode esperar, são outro ponto forte de Era Uma Vez … em Hollywood. Leonardo DiCaprio nos entrega um excelente astro de bangue-bangue em decadência. Brad Pitt repete a fórmula de seu matador de nazistas de Bastardos Inglórios (aliás, temos uma ou duas referências ao filme, o mais atento vai pegar). E Margot Robbie nos entrega uma Sharon Tate que é pura alegria e luz. Onde quer que vá, leva simpatia e cores. Simples e marcante, quase uma homenagem à atriz que teve sua vida abreviada. Cercam eles ainda um Al Pacino e os amigos de Tarantino, Michael Madsen e Kurt Russell, entre outros. O elenco é bem numeroso.
É possível que tenhamos pessoas que percebam Era Uma Vez … em Hollywood como um filme mais arrastado. É pertinente. Mas como sempre, Tarantino não cumpre obviedades e entrega cenas icônicas, como já esperamos dele desde Um Drink no Inferno, Pulp Fiction, Django Livre… Inclusive, com o contexto que possui o filme, você vai se surpreender com o final e os caminhos percorridos até ele. Ah, o final…. É claro, é sempre nele que Tarantino aparece com sua carga máxima de entrega e com toda sua caixa de ferramentas. E aí, a experiência fica completa. Caso Tarantino cumpra sua “promessa” de fazer apenas 10 filmes, já podemos nos considerar órfãos desse estilo tão próprio.
E sem dúvida, a Vigília Recomenda!