Crô em família: um filme de jargões | Crítica
É possível fazer comédia com um personagem que nasceu de um coadjuvante em uma novela da Globo em 2011? Aparentemente sim, a gente só não pode garantir que vai ser engraçado, né? É nessa pegada que Crô em Família chega aos cinemas brasileiros, com direção de Cininha de Paula e elenco contando com nomes como Marcelo Serrado, Arlete Salles e Tonico Pereira.
Para quem não conhece, Crô, interpretado por Marcelo Serrado, foi um personagem criado por Aguinaldo Silva para a novela Fina Estampa (2011) da Rede Globo. Na época, o público pareceu se identificar com o mordomo homossexual e escrachado, gerando um filme próprio. Crô – O filme estreou em 2013 e conseguiu manter a hype que o personagem trazia da novela que havia recém terminado. Agora, cinco anos depois, somos convidados a ver Crô tendo que lidar com uma família que ele nunca viu e ajustar toda a sua vida com seis novas pessoas dentro da sua casa.
O plot central não é nada inovador. Um grupo de estranhos, dizendo ser a família de alguém rico e tentando dar um golpe com cenas bem na linha de Esqueceram de Mim (1990). Crô acabou de passar por uma separação que fez com que ele perdesse, inclusive, a guarda de sua cachorra, então a ideia de “uma família” parece quase agradável, mas obviamente, nada vai como o esperado.
Talvez Crô tenha sido um personagem aceitável em 2011, porém agora ele é, basicamente, um desserviço. É necessário entender que há uma linha de comédia que vai pelo pastelão e a mais pura bobagem, assim como vimos em O Candidato Honesto 2, porém, Crô é demais. Tudo é exagerado, principalmente, o que pode ser considerado como os “jargões gays”. Uma das frases mais faladas no filme é “pedi pra parar, parou!” e essa não é nem uma hipérbole, é um fato. “Tô passada”, “ai mona”, “se isso é tá na pior” e tantas outras frases que parecem ter saído de um vídeo de 2007 são grande parte do roteiro e isso deixa de ser engraçado devido a repetição.
O roteiro não peca apenas nessa área. Personagens sem profundidade, que aparecem e desaparecem de tempo em tempo, fazem parte de um rodízio estranho de cenas que – quase com certeza – não foram gravadas em mais de cinco espaços diferentes: a escola de etiqueta, a casa de Crô, a orla no Rio de Janeiro, uma rua com árvores (que não fez o menor sentido) e a sala de audiência jurídica. Chega a ser estranho o fato de que Aguinaldo Silva, que é reconhecido por sua produção de novelas para o horário nobre, seja o roteirista.
Acho que a parte mais interessante do filme foi acompanhar quantas marcas de luxo a produção conseguiria colocar em algumas horas de filme. Crô vestiu Gucci, Versace, Chanel e Burberry em um curto espaço de tempo, quase me senti assistindo o vídeo do “Quanto Custa o Outfit?” de novo. Talvez o que foi economizado com as locações de lugares foi usado para figurino, nunca vamos saber.
Normalmente eu termino as críticas dando uma razão para o público assistir o filme no cinema. Dessa vez, minha única boa razão para ir é: apoiar o cinema nacional. Nenhuma outra razão. Crô em Família não é engraçado e é saturado a ponto de dar sono.