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Clube das Mulheres de Negócios: de mulheres para mulheres

E se vivêssemos em um mundo invertido onde as mulheres tomaram o poder e o papel dos homens? Onde elas que possuem altos cargos, muito dinheiro, gozam de seu status para cometer atrocidades e sexualizar o gênero oposto? Essa é a premissa de Clube das Mulheres de Negócio, longa de Anna Muylaert que abriu a Mostra Competitiva do 52º Festival de Cinema de Gramado.

Poder, onças e questionamento de gêneros são as pautas principais do novo filme da diretora de Que Horas Ela Volta? e Durval Discos. Inclusive, podemos dizer que Clube das Mulheres de Negócio bebe da mesma fonte de Durval. Tem um lado A e um lado B. Somos convidados a entrar em um submundo que flerta com o trash depois de conferir momentos de muita ostentação.

Na trama, Cesária (Cristina Pereira) é chefe de um Clube que une mulheres ricas da região. Em uma bela propriedade, a milionária excêntrica ostenta animais silvestres e muitas funcionárias. Seguranças, cozinheiras e até mesmo uma espécie de “mordomo”, vivida por Louise Cardoso.

Com um elenco que une grandes nomes do humor e da dramaturgia brasileira, como Grace Gianoukas, Irene Ravache, Itala Nandi, Katiuscia Canoro, Shirley Cruz e Polly Marinho, o longa acaba um pouco prejudicado por não conseguir abordar todas as narrativas individualmente.

Contudo, pensando em coletivo, o novo filme de Anna Mulayert funciona muito bem. Subvertendo a lógica de gênero, a diretora consegue entrar em questões muito delicadas utilizando de humor. Etarismo e a sexualização da mulher, por exemplo, não são debatidos com palavras, mas com cenas sutis.

Rafa Vitti e Luis Miranda entram na trama como jornalistas que precisam falar sobre esse clube, mas não são exatamente a dupla perfeita. Luis Miranda vive um fotógrafo mais experiente que, de início, não parece ter paciência com o colega que está começando. Candinho, vivido por Rafa, poderia ser mais um de seus papéis, contudo, pode se tornar um ponto de virada na carreira do ator. Em uma determinada cena, é impossível não se emocionar junto com ele.

As sutilezas ficam apenas nos diálogos e em cenas específicas. No geral, é tudo muito. E isso não é algo exatamente ruim. O exagero e o humor escrevem uma história que aborda diversas questões sociais que temos que falar cada vez mais.

Apesar de divertido, Clube das Mulheres de Negócios não é um filme fácil. Assim como os outros títulos da diretora, ele não surge sem fazer barulho e não vem sem o objetivo de incomodar uma parcela da população. Dessa vez, são os homens brancos e héteros, que nunca viveram na pele de uma mulher. Não sabem o que é sofrer um assédio, ser desqualificada apenas pelo seu gênero ou ser sub julgada e tratada como um objeto sexual.

Anna Mulayert é uma das quatro diretoras que terão seus longas exibidos na competição. Pela primeira vez, serão mais mulheres que homens. Anna com seu elenco e seu trabalho nos lembra que basicamente também temos um clube. Temos um clube composto por todas as mulheres do mundo que, em maior ou menor grau, já viveram algo parecido com aquilo retratado em tela. Que só conseguem alcançar algumas nuances porque são mulheres. Existem coisas que o homem branco e hétero jamais vai entender e esse filme é uma delas.

Veredito da Vigilia

Foto: Cleiton Thiele/Agência Pressphoto

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