Bleach | Crítica
Eu sempre disse que se o anime de Bleach não tivesse fillers seria perfeito. Pois bem, acredito que o live-action é um belo exemplo disso. A produção da Warner Bros., baseada na série de mangá de mesmo nome, de Tite Kubo, e dirigido por Shinsuke Sato, vai direto ao ponto, sem enrolações, conseguindo retratar em menos de duas horas a jornada do herói do protagonista, explicar o universo em que a história está inserida e apresentar personagens importantes de uma maneira menos superficial possível.
Personagens… ah, os personagens. Bleach possui tanto uma gama de figuras das mais variadas e bem construídas, quanto as mais descartáveis (principalmente nos fillers). No filme, temos quem realmente importa para construir uma história fechada, que pode ou não ter continuação com o final apresentado no longa. Personagens esses que são introduzidos na história tão fielmente quanto no anime e mangá. Se os fãs das adaptações ocidentais ficam excitados toda vez que um fan service aparece na tela, o que dizer das películas orientais, que são uma overdose desse quesito. Vide Fullmetal Alchemist e Rurouni Kenshin, esse último, melhor executado na frente das telonas.
Vale ressaltar a caracterização, deixando idênticos o visual dos personagens. Até o cabelo do Ichigo é algo palpável, não parecendo uma peruca de cosplay, como a do Ed, em Fullmetal. O figurino de Abarai Renji e Byakuya Kuchiki estão espetacularmente bem feitos. Prova de que não se precisa mudar o visual de uma personagem de uma mídia para a outra, com medo de que fique ridículo. Os cenários também são de uma fidelidade, inclusive o quarto do protagonista, cheio de posteres de bandas de rock (em sua maioria da banda Bad Religion). No anime não tem nenhum desses adereços no quarto, mas acredito que foi uma espécie de easter egg, já que o criador admite ter se baseado no mundo do Rock n’ roll para tirar várias ideias de nomes de personagens e outras peculiaridades do mangá (o nome foi baseado em um álbum do Nirvana).
O filme, que estreou nos cinemas japoneses em 20 de julho de 2018 e no catálogo da Netflix na sexta-feira, 14 de setembro, mostra como o colegial de 15 anos, cabelos laranjas e olhos castanhos, Kurosaki Ichigo, se torna um Shinigami, após ter contato com a Rukia, uma ceifadora de almas legítima. Somos apresentados a família de Ichigo, seus colegas de escola e os outros shinigamis, que tem papel importante no filme, principalmente nas lutas, muito bem coreografadas. Os hollows estão bem fiéis também, assim como a trilha sonora, cheia de rock, o que não poderia ser diferente. Inclusive, os sons de fundo característicos no anime podem ser conferidos também (mais fan service).
O único ponto que deixou a desejar foi a dublagem. Diferente de Fullmetal (olha a comparação de novo), Bleach não conseguiu reunir as vozes originais em português dos seus personagens. A única com a mesma dubladora é Rukia. Outra coisa que pode incomodar é o termo “Ceifeiro de Almas”, também utilizado na versão brasileira do anime. O filme inteiro, os encarregados por levarem as almas para a Sociedade das Almas são descritos por esse nome e no final, a Rukia resolve falar a palavra “Shinigami”. Não sei se foi uma homenagem que o estúdio quis prestar ou foi vacilo mesmo.
Bleach, o filme, pode ser apreciado por fãs de carteirinha, quanto por marinheiros de primeira viagem, que não tiveram contato nenhum com o mangá ou o anime. A história tem início, meio e fim (talvez, como já citei acima). Para quem quiser conferir a animação japonesa, cinco das 16 temporadas (isso mesmo que você acabou de ler, 16!) estão disponíveis na Netflix. Ou seja, 109 dos 366 episódios que compõem a trama.