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Big Little Lies | Crítica da 1ª temporada

Do simples caso de bullying entre crianças de seis anos até a morte trágica em um grande evento da sociedade da pequena Monterey. A trama de Big Little Lies, nova e excelente produção da HBO, já nos é apresentada em sua essência logo no primeiro capítulo. A partir daí, a narrativa é uma caixa de brinquedos. E esses brinquedos vão sendo usados pelo diretor Jean-Marc Vallé (Clube de Compras Dallas, Livre) nos levando a entender tudo que se passou até o inusitado desfecho. Tudo isso a partir da ótica de três diferentes mulheres que aprofundam suas amizades. Todas elas com suas particularidades, problemas e traumas pessoais que nos levam a refletir vários temas da vida moderna: abuso, traição, estupro, violência, separações, educação dos filhos e o velho paradigma de se manter as aparências nas relações da sociedade. Some a tudo isso às excelentes atuações das estrelas Reese Witherspoon (Madeline), Nicole Kidman (Celeste) e Shailene Woodley (Jane), apimentadas ainda pelas participações de Laura Dern (Jurassic Park) e Alexander Skarsgård (Tarzan/True Blood) e o belíssimo cenário de duas cidades cortadas pela Highway One, uma das mais belas e cenográficas rodovias dos Estados Unidos, Monterey e San Luis Obispo.

Big Little Lies, além de mostrar uma grande história, é levada por subtramas que nos envolvem. Desde os primeiro momento queremos saber o que foi afinal que aconteceu e o que teria levado Madeline, Jane e Celeste a cometer tamanha atrocidade. Madeline é a mãe separada, que não superou o trauma de ter sido abandonada pelo primeiro marido, mas vive em uma família feliz, com novo casamento, uma marido que lhe ama e duas filhas. Celeste também é um exemplo de família de comerciais de margarina, mas ao contrário da amiga, vive fiel ao marido bem sucedido Peter (Alexander Skarsgård) e seus filhos gêmeos. Já Jane é o avesso de tudo isso. Mãe solteira (ou melhor, solo), ela muda para Monterey para tentar recomeçar a vida com o pequeno filho Ziggy, que nunca conheceu o pai. Todas elas tem mistérios e segredos, que vão se desenrolando lentamente a cada episódio. Mas nunca perdendo o fio da meada. Algo de muito ruim aconteceu e elas estão envolvidas.

Jane é a primeira a ter sua história desenvolvida. Seu filho Ziggy (o adorável Iain Armitage, o jovem Sheldon Cooper no derivado de The Big Bang Theory) é acusado injustamente na escola de ter agredido a pequena Amabella, filha da rica Renata Klein (Laura Dern, sempre ótima). Justamente quando ela acreditava começar uma nova vida, o primeiro problema vai jogá-la a situações bem ruins, sempre com a ótica de que a sociedade estará permanentemente julgando uma mãe solo e mais humilde (é assim quase sempre na vida real). Ela também terá que superar seu principal trauma: Ziggy é fruto de uma relação não consentida e vive questionando quem é seu pai.

Celeste, a advogada que abandonou a carreira para se dedicar ao lar, também guarda mistérios inimagináveis. Enclausurada em uma relação que bota qualquer Christian Grey de 50 Tons de Cinza no chinelo, ela é uma das tantas mulheres que sofrem com a violência dentro de casa. Seu marido Peter é lobo em pele de cordeiro. Mas muita coisa faz com que ela não lute contra tudo isso. E por vezes vai parecer que ela realmente gosta de sofrer. Mas não é bem assim, e tal qual como podemos perceber em nossos arredores, ela está presa em uma relação nem um pouco saudável.

Por fim, Madeline é a típica mãe de família que parece ter tudo sempre a seu controle. Com todas as aparências mantidas, sua preocupação é tentar ajudar aos outros, sejam as amigas, ou a sociedade a pensar diferente a partir de uma peça de teatro para a qual a provinciana Monterey, com seus 30 mil habitantes, parece não estar preparada. Novamente, não é bem assim, e talvez ela não segure a barra de dois relacionamentos anteriores, os traumas das amigas, a luta pela peça de teatro e uma filha adolescente prestes a fazer algo bem bizarro.

Além das grandes personagens, Big Little Lies se atém aos detalhes. Mas tudo nos é colocado de formas diferentes e somos levados a criar diversas teorias sobre tudo que pode ter levado ao trágico fim. As arestas vão sendo cortadas e as respostas vão surgindo e satisfazendo nossas curiosidades. E tudo vem banhando também de uma bela trilha sonora (Elvis Presley, Fleetwood Mac, Neil Young, Alabama Shakes, Jefferson Airplane, entre outros). Mas como tudo ao longo da trama, até mesmo algumas dessas respostas podem ser revistas. O primeiro arco encerrou, mas certamente teremos mais revelações na segunda temporada, com mais questionamentos e tensionamentos de como levamos nossas vidas e como a sociedade influencia nas decisões das pessoas. São muitas reflexões para serem feitas.

E a Vigília vai aguardar ansiosamente por isso.

Veredito da Vigilia

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