CríticaFilmes

Ambulância: Um Dia de Crime é Michael Bay sendo Michael Bay

Sim, ele ataca novamente. Michael Bay, o cara que não consegue ficar dois minutos sem explodir alguma coisa em seus filmes, está de volta com Ambulância: Um Dia de Crime. O longa reúne uma trinca interessante de protagonistas: Jake Gyllenhaal (Homem-Aranha: Longe de Casa), Eiza Gonzalez (Em Ritmo de Fuga) e Yahya Abdul-Matten II (Watchmen), e estreia na quinta-feira, dia 24 de março, sendo a garantia de um blockbuster movimentado. Depois de um horroroso Esquadrão 6 (disponível na Netflix), fica tranquilo antecipar que, desta vez, o cineasta tem uma considerável melhoria em sua cinegrafia. Ambulância é daqueles filmes que você assiste sem a menor preocupação com o que está acontecendo, mas é frenético o suficiente para garantir a pipoca. Isso é claro, se você conseguir acionar a suspensão da descrença.

Baseado no thriller dinamarquês Ambulancen, de 2005, de Laurits Munch-Petersen e Lars Andreas Pedersen, Michael Bay traz todas as suas características para esta adaptação. Ou seja, tudo aqui será exagerado exponencialmente, deixando um thriller tenso com pitadas de aventura e seu habitual leque de explosões. O exagero também se reflete no tempo de filme. Se no original temos 80 minutos, Bay gasta todo o tempo possível e entrega um filme com 2 horas e 16 minutos. Faz sentido, afinal, estamos falando do cara que é praticamente o Yngwie Malmsteen dos cinemas. Para ele, não existe menos é mais. Ao contrário, mais é mais. E quanto mais, melhor.

Ambulância elenco
Um elenco que funciona: Jake Gyllenhaal, Yahya Abdul-Mateen II, Michael Bay e Eiza González.

Mas vamos à trama. Passado todo em um só dia, Ambulância: Um dia de Crime (nada a ver coma franquia The Purge, da Blumhouse) apresenta um veterano de guerra Will (Yahya Abdul-Mateen II) preocupado com a saúde da mulher com câncer e do filho pequeno. Sem saída com o plano de saúde, ele apela ao seu irmão adotivo, Danny (Jake Gyllenhaal), um grande assaltante de bancos que planeja um novo ataque: o 37º de sua carreira. E claro, ele vai insistir para que o irmão (até então bonzinho) entre nessa fria em busca de 32 milhões de dólares. Mais do que o suficiente para tentar salvar a família. E, também por óbvio, ele embarca nessa. É quando tudo começa. Mas antes, ainda temos a introdução da nossa socorrista com coração de gelo, Cam (Eiza González), que vai completar a tríade de protagonistas.

Ambulância de Michael Bay
Ambulância: se é Michael Bay, tem explosão!

Como já se sabe, o roubo não dá certo. Aliás, é ali que Michael Bay entrega uma das piores partes do filme. Sem respeitar qualquer regra da física ou geografia, o assalto frustrado ao banco deveria ser aquela cena de ação de abertura, mas é confusa, estranha e cheia de câmeras em movimento. É aqui também que começa o show de drones subindo e descendo paredes dos arranha-céus de Los Angeles. Uma tomada que vai se repetir até o último segundo da apresentação. Mas enfim, entra em cena a ambulância que é sequestrada, com um policial ferido a reboque, e a socorrista que precisará mantê-lo vivo. Afinal, esse será um dos únicos trunfos dos assaltantes nas negociações que virão a seguir.

Jake e Yahia formam uma dupla de opostos. Apesar de estarem cometendo um grande crime, o filme faz o esforço necessário para que todos gostem da causa de Will e tenham Danny como o criminoso egocêntrico e arrogante. Até certo ponto funciona. Nesse meio, teremos Cam tentando de tudo, inclusive uma terrível cena de cirurgia, para salvar o policial baleado. É Michael Bay, então, já se sabe que teremos de tudo um pouco no filme, não é mesmo? Alguns momentos realmente são dignos de risadas. Mas, se você estiver com o espírito livre, nível Velozes e Furiosos, o longa vai continuar funcionando. 

Ambulância: Eiza González
Michael Bay dá para Eiza González vários momentos do tipo: Vai filha, brilha que agora é contigo!

Funciona até mesmo com o sem números de aleatoriedades apresentadas no lado policial da trama. Agentes vão sair e entrar de cena sem a menor explicação, e ainda teremos uma pá de conveniências na relação bandidos versus mocinhos. É assim e pronto. Dentro delas, até um check list de inclusão dentro de um elenco tão diverso que orbita esse dia agitado em Los Angeles. Michael Bay acha espaço inclusive para colocar seu cachorro Nitro em cena (sempre puxando um alívio cômico), além de se autoreferenciar com bons momentos de sua carreira, como em A Rocha. Quem for fã do diretor talvez conseguirá achar até mais easter-eggs de sua própria trajetória. Vai entender (?).

Ambulância: Michael Bay sendo Michael Bay
Cuidado, se você olhar muito tempo para esta foto, ela explode!

Quando você achar que não há mais o que acontecer em Ambulância, Michael Bay dará um jeito (sempre aleatório) de colocar mais camadas nos conflitos. Chegando ao cúmulo de uma quase guerra entre gangues e a polícia local. Subidas e descidas de viadutos e carros explodindo ao menor contato também entram para a contabilidade. E quando você achar que tudo acabou, ele ainda vai dar espaço para Eiza Gonzalez desfilar seu carisma e beleza por mais algum tempo, em um final que lembra os melhores desfiles. E quer saber, é brega, mas certamente funciona para boa parte do público.

Com tudo isso colocado, você pode até achar que a nota será ruim por aqui. Mas não. Sabendo que Michael Bay é capaz, Ambulância é aquele blockbuster certeiro para sentar, não pensar em nada, se divertir com os bons atores, rir de coisas absurdas, e sair da sessão sem a menor chance de lembrar do que aconteceu. É entretenimento raso, mas que pode ser bem divertido, porque ao contrário de outros filmes por aí, ele tem um certo nível de honestidade. Michael Bay, entre na minha casa e exploda a cozinha. Mas faça isso com câmeras e tomadas aéreas e drones. Faça o seu cinema.

Veredito da Vigilia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *