Alien: Covenant | Crítica
Ridley Scott volta ao seu terceiro filme com um dos mais icônicos personagens do terror espacial, e que ele mesmo ajudou a criar, em Alien: Covenant, que estreia dia 11 de maio no Brasil. Vale lembrar que o primeiro, e mais clássico, foi lá em 1979, com Alien – O Oitavo Passageiro, e o último foi com o quase não assumido Prometheus (uma espécie de prequência de todo o universo) que veio em 2012.
Em Alien: Covenant voltamos ao que tínhamos de melhor em toda a série. Quem assistiu aos anteriores vai ver a recriação, com detalhes que vão desde os créditos iniciais até o desfecho, deste mundo espacial ou espécie de “universo expandido” (para usar a palavra da vez nos cinemas). Muito do que foi usado (principalmente nos primeiros três longas) está lá. E quando se fala muito, é muito mesmo. Impossível não comparar a personagem Daniels (Katherine Waterson) com a heroína Ripley (Sigourney Weaver). Até mesmo as vestimentas e cenas com pouca roupa estão idênticas. E não necessariamente isso é mais do mesmo. Alien: Covenant é um refresco e uma espécie do que Star Wars: O Despertar da Força, foi para o mundo Jedi. Apesar de um plot twist manjado, as pontas estão lá para que o xenomorfo continue espalhando o terror por algum tempo nos cinemas.
O apelo visual é também um dos pontos altos da nova obra-prima espacial de Ridley Scott. E assim como em Prometheus, ele levanta questões históricas e religiosas de formas bem sutis. A eterna busca por respostas de quem somos e para onde vamos, e quem criou tudo isso está lá, com a referência bíblica entre os robôs (outro ponto importante para a série Alien, sempre temos um robô, e quase sempre ele tem sua cabeça decepada) David e Walter, numa quase releitura de Caim e Abel, misturada ao desejo de se tornar também humano. Scott também aprofunda a questão da criação e de deuses com referências à história da arte e da música com Wagner (Richard Wagner) e sua brilhante composição O ouro do Reno – A entrada dos deuses no Valhalla, sempre amparado em David (Michael Fassbender). A problematização de tudo isso, como sabemos, mas queremos sempre nos enganar, é que é o próprio homem que cria seus problemas.
Passadas as filosofias, temos também a trama que move toda a ação e suspense. Afinal, ainda estamos falando de um filme com Aliens. Como de praxe, estamos em uma nave que busca a colonização em um planeta que possa oferecer abrigo para a humanidade. Mas alguma coisa acontece. Um imprevisto espacial unido a um sinal semelhante a uma música faz com que a tripulação acabe acordando antes e resolva investigar esse possível chamado. Sair da missão original em um filme de Alien, já sabemos, nunca acaba bem. E os problemas já começam quando o capitão da missão Branson (James Franco) e marido de Daniels tem sua câmara de criogenia danificada. O suficiente para Franco nem precisar ser creditado no filme, você nem vai lembrar que ele esteve lá. O posto mais alto da missão cai em Oram (Billy Crudup), que não tem a confiança dos demais. Completam a missão outros tripulantes, entre eles Tenneesee (Danny McBride) em outra referência a tripulação de Alien – O oitavo passageiro, que tinha o também piloto Dallas.
Oram quer mostrar liderança e convence os demais a fazer a expedição no planeta, até então desconhecido. Aqui outra lembrança para os assíduos da série, eles encontram a clássica nave onde a “magia” acontece. Lá dentro, lembramos outra clássica lição Alien: nunca toque em material orgânico desconhecido. É a deixa para tudo começar a dar errado e aparecerem os nossos amigos xenomorfos, ainda mais gosmentos e violentos. Mas estamos em uma sequência de Prometheus, e algumas caras conhecidas vão aparecer por aqui. Passados os primeiros sustos, Ridley Scott entra em suas pirações e referências, tudo de uma forma ainda mais babilônica, mesclando um tema que não era tão recorrente nos primórdios da franquia. Anteriormente tínhamos um pé mais na tecnologia, agora, ele mistura uma espécie de misticismo, fé, e um universo mais orgânico do que metálico. E David está lá para nos guiar nessas nuances de criadores e criaturas. Se ele é responsável pelos momento filosóficos do filme, é dele também o plot twist que não vai enganar ninguém na sala de cinema, talvez o principal deslize de Alien: Covenant.
As cenas de ação dão o movimento necessário à total nostalgia e celebração Alien colocada pelo diretor. O xenomorfo (ou os xenomorfos) realmente tocam o terror, embora tenhamos uma cena desperdiçada (com um casal no chuveiro), que poderia ter sido um pouco mais elaborada. Faltou um baque maior por ali. O desfecho vai nos angustiando pelo tal do plot twist já mencionado. A deixa por um outro revés ficou ali diante meus olhos e minha torcida, mas não se efetivou. Mas esse final vale a pena conferir numa sessão de cinema com um bom balde de pipoca e aquela sensação de que o frescor de Alien pode ter vindo para ficar.