A tempestade perfeita: como Animal Crossing New Horizons segue quebrando recordes
Na madrugada do dia 6 de agosto, a Nintendo apresentou a investidores os resultados do primeiro quadrimestre do atual ano fiscal. Como já se sabia, até 30 de junho, o Nintendo Switch havia superado a marca de 61 milhões de consoles vendidos e superou o NES, vulgo Nintendinho, em número de vendas. Mas, na apresentação, a verdadeira manchete estava na lista dos jogos mais vendidos do console. Isso porque, três meses após seu lançamento, Animal Crossing: New Horizons desmanchou recordes e saltou para a segunda posição, com 22,4 milhões de unidades vendidas, superando um ano e meio de vendas de Super Smash Bros Ultimate (19,9 milhões) e encostando no líder isolado, Mario Kart 8 Deluxe (26,7 milhões), que deve ser superado nas vendas de final de ano. O resultado é muito além de qualquer projeção de fãs e da própria Nintendo e não repousa tão somente na popularidade franquia. Animal Crossing é o resultado de uma tempestade perfeita.
O simulador, lançado inicialmente com exclusividade no Japão, ainda no Nintendo 64, sempre foi um sucesso de vendas. Sua estreia mundial no Gamecube vendeu bem para o console, com mais de 2,32 milhões de cópias. Mas foram suas versões portáteis que brilharam: Wild World, no Nintendo DS vendeu mais de 11,7 milhões e New Leaf, no 3DS, superou os 12,4 milhões em oito anos. No entanto, desde o Wii, a franquia estava adormecida nos consoles de mesa. E nesses oito anos de espera até seu lançamento, a comunidade esperava a primeira versão HD da série, tendo que se contentar com spin-offs de péssima qualidade e uma versão ordinária para celular.
Quando a Nintendo deu a entender que, em 2019, o Switch receberia um Animal Crossing para chamar de seu, as expectativas aumentaram, somente para serem completamente dilaceradas na E3 seguinte: o jogo precisava ser adiado para março de 2020. O objetivo, segundo a Nintendo, era polir o jogo ainda mais sem afetar a saúde dos funcionários. Depois de 8 anos, de espera, foi uma balde de água fria. Mais do que isso, Animal Crossing ia enfrentar uma das janelas de lançamento mais concorridas dos últimos três anos. Em um curto espaço de tempo, os consoles receberiam alguns dos jogos mais esperados da década: o remake de Final Fantasy VII, The Last of Us Parte 2, a continuação Doom Eternal e Cyberpunk 2077, todos no primeiro semestre de 2020. Doom Eternal, inclusive, dividiria o dia de lançamento com Animal Crossing. Sem mais nenhum grande título da Nintendo para 2020, suas fichas foram todas apostadas em New Horizons. A empresa estava confiante no game.
E, então, o coronavírus aconteceu
Foi em fevereiro que a rápida proliferação do vírus começou a atingir em cheio a indústria de games. Peças faltavam para a construção de novos consoles, jogos começaram a ser adiados e anúncios esperados foram cancelados. Também foi o mês que a Nintendo mostrou pela primeira vez o que esperava os jogadores em suas ilhas desertas, em uma direct totalmente focada em New Horizons. A fuga idílica para uma ilha paradisíaca soava cada vez mais atraente em meio há tantas incertezas e conflitos no mundo real. Quem ainda tinha dúvidas se deveria pegar ou não o game, teve um novo baque em março. Foi o momento em que a OMS declarou estado de pandemia mundial. Os casos dispararam nos EUA, a Europa estava completamente fechada e o Brasil registrava suas primeiras mortes. Na semana de lançamento, os estados brasileiros decretaram quarentena, na tentativa de segurar o contágio. De repente, escapar para uma ilha deserta parecia uma boa ideia.
O estilo relaxante e descompromissado do game caíram como uma luva para ajudar a reduzir a ansiedade e medo dos meses seguintes. Fazer suas rotinas diárias na construção da ilha ajudaram a elaborar uma rotina e caminhar pelas ruas sem medo de afetar sua saúde. Ao mesmo tempo que as pessoas iam descobrindo essas sensações e compartilhando elas nas redes sociais, o jogo, com seu humor estranho, rapidamente se tornou uma máquina de produção de memes, fanarts e sucesso até mesmo em quem sequer sabia da existência da série. Além disso, o potencial híbrido do console, garantia que, não importa onde você estivesse, poderia continuar mantendo sua ilha ou curtir ela em HD na televisão.
Depois de Animal Crossing, faltou até console
Nos Estados Unidos, lojas começaram a sofrer com a falta de Nintendo Switch. O console ficou esgotado por semanas em boa parte do território norte-americano. Houve um caso de um homem que, após ser demitido do emprego no começo da pandemia, viajou até sua casa comprando todos os consoles que achava no meio do caminho e vendendo ao dobro do preço. E o resultado final do ano fiscal 2019 da Nintendo, divulgado em abril, foi chocante: em 10 dias, Animal Crossing havia vendido mais de 10 milhões de cópias. Quase 50% delas, digitais, outro recorde para o jogo. O rápido crescimento em vendas impactou diretamente a venda de consoles, mas em maio, os estoques já estavam repostos.
Somado a isso, jogos que poderiam conter o avanço absurdo de New Horizons, começaram a ser adiados devido às incertezas da pandemia. Final Fantasy VII passou para maio, The Last of Us Parte 2 para junho e Cyberpunk 2077 para setembro, depois para novembro. Doom Eternal, que lançou no mesmo dia, acabou criando uma relação de amizade entre as fanbases e entre as redes sociais de ambos os jogos que retribuíram elogios e compartilharam memes. Some à popularidade, a atenção dos desenvolvedores em oferecer atualizações gratuitas mensais, garantindo novos jogadores, ao mesmo tempo que anima os demais a continuarem visitando suas ilhas.
O hype e o sucesso de Animal Crossing, ao que parecem, não vão parar de crescer tão cedo. O jogo segue encabeçando listas de vendas, ocupando o espaço de lançamentos cancelados e oferecendo uma alternativa ao turbilhão de más notícias que 2020 nos trouxe. Com um final de ano à frente, o que podemos esperar é que esse embalo ainda leve a franquia a novos horizontes.
E você, também está se divertindo com a sua própria ilha? Conta pra gente!
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