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PISQUE DUAS VEZES supera as expectativas

O debut de Zöe Kravitz na direção, Pisque Duas Vezes, é impactante, sombrio e conta com um toque de malícia divertidíssimo.

Não se engane, quando falo que “Pisque Duas Vezes” é divertido, não digo no quesito humor. Me refiro à sagacidade da obra e na intensidade da entrega da produção, que nos mostra o talento de Zöe por trás das câmeras e nos deixa ainda mais animados para saber os seus próximos passos.

Com Channing Tatum, noivo da diretora, como protagonista masculino do longa, vemos uma nova faceta do ator. Apesar de ter diversas obras de drama em seu currículo, inclusive a trilogia Magic Mike, um de seus maiores projetos, a maioria acaba em uma subcategoria de drama + comédia, como é também o caso de Dog – A Aventura de Uma Vida (2022) e Logan Lucky (2017), sendo que este também mistura doses de ação no meio disso tudo. Mas agora, em Pisque Duas Vezes, Tatum tem a oportunidade de interpretar um personagem mais dúbio, um bilionário excêntrico que, claro, tem o seu (bom) toque de vilania.

Na história, acompanhamos Frida (Naomi Ackie, de I Wanna Dance With Somebody), uma garçonete frustrada com a vida que, junto de sua amiga Jess (Alia Schawkat, de Arrested Development), vai trabalhar na festa anual do grande bilionário de tecnologia King Slater (Tatum). No meio do evento, as amigas trocam os uniformes por vestidos de gala, se misturam aos convidados e acabam conhecendo o dono da festa.

Curtindo suas identidades falsas, a diversão é tanta que, após a festa, Slater convida as duas a se juntarem a um grupo de amigos e amigas para visitarem a sua ilha particular. Aí começa a fartura e a diversão sem limites em um cenário paradisíaco. É também neste momento que as coisas começam a ficar ligeiramente estranhas e perfeitas demais para serem verdade. Pisque duas vezes se você também acha que isso é receita para o desastre.

O grupo de amigos traz um elenco de apoio interessantíssimo, composto por Christian Slater (Mr. Robot), Simon Rex (o George, de Todo Mundo em Pânico), Adria Arjona (Morbius, Assassino por Acaso), Haley Joel Osment (Somebody I Used to Know), Geena Davis (Thelma & Louise, GLOW), Kyle MacLachlan (Fallout) e mais. Todos acabam tendo pequenos destaques especiais ao longo do filme, abrilhantando as suas participações e o projeto como um todo.

É impossível também não fazer um paralelo com Frida e sua diretora Zöe Kravitz. O cabelo curto, os dentes separados e a beleza são algo em comum entre “criador e criatura”. E a própria jornada de Frida, que, sem muito spoilers, passa por empoderamento e a busca por vingança, é algo que para nós, mulheres, muitas vezes acaba sendo objeto de desejo e fantasia no mundo problemático e machista em que vivemos. Assim, acredito que Zöe, que também assina o longa como roteirista, ao lado de E.T. Feigenbaum (que já havia trabalhado com ela em Alta Fidelidade), tenha trazido essa narrativa propositalmente para representar esses não tão ocultos pensamentos que permeiam as nossas mentes, também sendo um grito de alerta a todos que queiram continuar nos desafiando: aqui não, mermão!

Naomie Ackie como Frida em Pisque Duas Vezes
Naomie Ackie como Frida em Pisque Duas Vezes

Além disso, Pisque Duas Vezes também bebe de uma fonte que está muito em alta nos últimos tempos: misturas ousadas entre gêneros. Aqui temos algo que mistura terror, thriller e mistério com um toque de terror psicológico e de humor negro. Algo que vem sendo muito bem executado por Jordan Peele, que, entre tantos sucessos, conquistou o público e a crítica com Corra!, obra do autor que mais se assemelha aqui. Já pelo combo bilionário excêntrico + ilha remota + coisas sinistras, tivemos recentemente Rian Johnson com Glass Onion: Um Mistério Knives Out (2022). Uma produção deliciosa, mas que perto de Pisque Duas Vezes parece uma versão para crianças. 

Assim, com certeza, o gostinho de quero mais por parte da direção de Zöe Kravitz é o que fica. Em seu primeiro filme, conseguiu entreter, chocar e impactar, mesmo tendo usado de uma fórmula um tanto previsível. Apesar de a ação em si demorar um pouco para surgir durante o filme, é possível perceber a atenção aos detalhes e a busca em realmente construir tensão e gerar conexão com a personagem principal, que quase passa por um “Feitiço do Tempo” ao longo da sua estadia na ilha. Ao final, o que fica é um sorriso no rosto e a vontade de devorar um pouco mais do que Pisque Duas Vezes nos trouxe nas telonas. 

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