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Franquia Evangelion se reconstrói de maneira otimista em 3.0+1.0 Thrice Upon a Time

Quando a saga Rebuild iniciou em 2007, muitos ficaram confusos se aquilo a que estávamos assistindo era uma remake, reboot ou apenas a mesma série Neon Genesis Evangelion, lançada em 1995. Ao observar com mais atenção, e a partir do segundo filme da tetralogia, percebemos que estamos diante de uma continuação da obra criada por Hideaki Anno, como se depois do longa-metragem The End of Evangelion, os personagens da história tivessem uma segunda chance para reviver as suas vidas, e assim, mudar o mundo. Bom, com o lançamento de Rebuild of Evangelion: 3.0+1.0 Thrice Upon a Time, ou Evangelion 3.0+1.01: A Esperança, como está sendo chamado no Brasil pelo Amazon Prime Video, percebemos que, literalmente, precisamos de uma “terceira” oportunidade para que tudo termine bem.

Evangelion sempre foi uma história sobre como os traumas nos definem e de como isso pode se tornar um efeito dominó, descontando tudo isso nos outros, que por sua vez, irão repassar essas frustrações para gerações futuras. Prova disso é que praticamente todos os personagens principais tem questões mal resolvidas com os seus progenitores. Em A Esperança, vemos que esses pais também possuíam as suas feridas causadas pelos seus país e provavelmente tenha sido assim desde antes.

Essa cena de uma prévia lançada em 2012 não está no novo filme

Depois de entendermos esses traumas no final da série original, mostrando que os personagens também entenderam isso, vemos que em Rebuild, eles já estão um pouco melhores em relação a aquela depressão que cada piloto de EVA transmitia. Rei Ayanami estava mais empática, demonstrando o que sentia e captando as demonstrações de afeto a sua volta; Asuka ainda era impulsiva, mas começa a admitir que não era tão forte quanto transparecia e Shinji Ikari não era mais tão exitoso, tomando algumas decisões por conta própria. E foi justamente isso que o “atrapalhou” nesse avanço, já que no final do terceiro filme, Rebuild of Evangelion 3.0: You Can (Not) Redo, o adolescente quase ocasiona o Terceiro Impacto, deixando o planeta devastado novamente.

Shinji está mais depressivo do que nunca nesse filme

É nesse cenário que se passa o quarto filme, que estreou nos cinemas japoneses em março de 2021, mas já poderia ter dado as caras por lá bem antes, se não fosse a epidemia de Covid-19. O Shinji de A Esperança consegue ser mais depressivo do que os vistos anteriormente em toda a franquia Evangelion. Carregando a culpa, depois de ficar 14 anos desacordado em um limbo, o garoto vê em cada parte pintada de vermelha o seu erro, já que o mundo atual está coberto por um tom rubro. A exceção são os locais em que a WILLE, organização criada por Misato Katsuragi e Ritsuko Akagi, depois que as duas descobriram os planos maléficos da NERV. Logo no início frenético do novo filme, em uma batalha no centro de Paris, com direito a Torre Eiffel sendo usada como porrete para bater em robôs do mal, vemos o trabalho da WILLE para reestruturar a paisagem da Terra, com um dispositivo que permite viver normalmente em um raio no qual esse equipamento atua, mas que frequentemente é sabotado pela NERV, do eterno comandante Gendo Ikari, o pai de Shinji. Paralelo a isso, vemos o próprio Shinji, Asuka e Rei parando em uma cidadezinha que usufrui dessa tecnologia e abriga poucas pessoas, dentre elas, os ex-colegas do tempo de escola do trio.

Misato Katsuragi criou a WILLE, nova organização presente em Evangelion

É aqui que 3.0+1.0 permite-se dar um respiro para as lutas de robôs e da batalha entre WILLE e NERV. Vemos os três protagonistas interagindo com os habitantes do local, ao mesmo tempo que o filme nos dá uma aula de vida. A atual Rei é uma das inúmeras clones de Yui, mãe de Shinji, mas diferente de suas outras versões, esta não tem memórias do seu convívio com as pessoas. Isso permite a atual Ayanami aprender do zero a viver, mostrando como é precioso todo esse período em que somos apresentados a coisas novas e que não tem problema você reviver essas mesmas coisas mais de uma vez (ou seriam três?), afinal, a vida é assim. Asuka continua sendo a sex symbol do anime, mas se você não é novo na franquia, já está acostumado com a superexposição dela e nos ângulos de câmera em que a personagem é retratada. Mas o importante aqui, é que ela admite se preocupar com tudo e todos, mesmo externando que está com raiva do mundo. Já Shinji, como falamos, está depressivo, mas é nesse ambiente que ele aos poucos vai recuperando a vontade de viver e a valorizar as pequenas coisas, seus ciclos e reconhecer a sua importância no mundo.

Rei aprende a viver (e a plantar) no novo filme

Após isso, entramos no verdadeiro plot de Evangelion 3.0+1.01: A Esperança, que é o plano da NERV, liderada por Gendo Ikari: gerar o Quarto Impacto utilizando o EVA 13, que Shnji e Kaworu pilotaram no filme anterior. Aqui voltamos às lutas de robôs gigantes, naves (uma novidade que existe somente na saga Rebuild), muitos anjos com designs mirabolantes e viagens pela mente dos personagens. 

Asuka e seu EVA 02 estão lutando para cancelar o apocalipse

O legal dessa roupagem moderna de Evangelion é que a tecnologia permitiu termos EVAs mais complexos, coreografias de batalha e uma montagem mais dinâmica de todas as cenas, tudo graças ao CGI. Não que eu aprove todos os modelos dos robôs (que devem mudar depois de cada missão só para gerar mais action figures), muito menos as suas versões bestiais com patinhas de gato, mas torna tudo sempre novo e dá mais peso aos embates, já que os mocinhos são uma resistência em um mundo pós-apocalíptico e não tem tantos recursos para consertar os EVAs depois de cada encontro com os vilões. A presença da nova personagem existente somente em Rebuild, Mari, nunca me agradou, mas se mostrou importante até o final, justificando a sua participação. 

Toda nova aparição dos EVAs significa que veremos um novo visual de suas armaduras

A metalinguagem nos momentos em que a jornada de Shinji passa através dos seus olhos, como se tudo aquilo não passasse mesmo de uma vida roteirizada, com câmeras e cenários feitos a base de maquetes e chroma keys, quebra uma quarta parede interna do longa, mostrando aos próprios personagens que eles podem mudar os seus destinos e reescrever a suas histórias.

EVA 13 X EVA 01: quem ganha?

Evangelion 3.0+1.01: A Esperança é longo, denso, violento e explora tudo o que poderia de toda a franquia criada nos anos 90. A espera de nove anos entre o quarto e o terceiro filme valeu a pena, já que temos a conclusão otimista de uma obra cheia de simbologias e por vezes, desanimadora, já que escancara o quão frágeis emocionalmente somos como seres humanos e de que talvez sejamos apenas uma versão inferiorizada de criaturas divinas. Contudo, ao idolatrá-las de uma maneira exagerada, pensando que a salvação existe somente se abrirmos mão do que vivemos aqui, esquecemos as vezes que podemos ter uma perspectiva melhor se recomeçarmos, uma duas, três vezes… sempre procurando escrever o Evangelho do Novo Genesis.

Parabéns, Shinji! 

Veredito da Vigilia

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