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A Odisseia | Crítica

Um filme onde a inspiração é a vida de um dos maiores exploradores marítimos que o mundo já conheceu. Desde o seu anúncio, “A Odisseia” já despertava o interesse de muita gente. E com uma produção caprichada, o nível e a expectativa elevaram ainda mais. Mas nem por isso o longa dirigido pelo francês Jérôme Salle está livre de críticas. Isso porque não há sintonia entre público e obra. Apesar de uma história rica, cheia de grandes imagens e transições, o distanciamento é uma constante, não permitindo nossa conexão com fatos sensíveis e personagens. Em muitos momentos parece que não há amarras narrativas que fisguem de vez nossa atenção.

A história conta boa parte da vida do oceanógrafo, escritor e documentarista aventureiro Jacques Costeau, aqui interpretado por Lambert Wilson (Matrix, Homens e Deuses). Mais precisamente dos 37 aos 70 anos. Sua esposa é Simone, nossa eterna Amélie Poulain, Audrey Tautou. Um casal feliz com tudo que uma família sempre imaginou. Casa, dois filhos, dinheiro e uma ótima carreira com amigos. Mas a vida precisa de mais. Aí, as primeiras invenções de Costeau despertam a curiosidade do mundo. E sua esposa e fiel escudeira está ali para incentivar de todas as formas. Mesmo que a ideia seja comprar um barco usado para desbravar os locais mais ermos dos sete mares. Financiamento não é problema quando se acredita no que se faz. Juntos eles vão chefiar muitas expedições. O trabalho ganhará a vida de Costeau, que também será responsável por algumas invenções importantes da vida no mar. Suas expedições ganharão diversos admiradores, mas Costeau também vai exibir seu lado controverso, despertando amor e ódio entre familiares e amigos.

 

A compra do famoso barco Calypso (não confundir com a ex-banda brasileira de tecnobrega) é o estopim para uma carreira que contribuiu com o mundo, a pesquisa e a ecologia de várias maneiras. Tudo isso misturado ao íntimo de uma das famílias mais famosas da época. São ingredientes fortes que poderiam conquistar e muito o expectador. Mas muitas vezes parece que vemos um videoclipe gigante, ou mesmo um daqueles programas do History Channel (comparação injusta, afinal o trabalho de Costeau ditou o que é feito nesses canais atualmente). Nem sempre isso é ruim, porque a produção é realmente boa. Ao longo de cinco meses de gravação, o orçamento passou dos 20 milhões de Euros, passando por locações na Antártida e também nas Bahamas.

Do céu ao inferno, Costeau passa de grande ídolo da oceanografia, divulgando seu trabalho em diversas universidades ao redor do mundo, para aventureiro ultrapassado. Até que sua vida privada passa para o centro da trama, principalmente com a mulher Simone e o filho mais novo, Philippe Cousteau, vivido por Pierre Niney (Frantz; Yves Saint Laurent), que é seu cúmplice e algoz.

O problema em A Odisseia é que nem mesmo os momentos mais fortes, seja de conquistas ou seja de grandes dramas, acabam tendo o impacto que deveriam, ficando esvaziados pelo perfil criado ao personagem central. Por vezes, as histórias de sua esposa ou filhos se sobressaem, deixando o clima cair em uma dinâmica pouco carismática. Mesmo no final de tudo, onde o seu legado deveria ser o grandes destaque, não temos algo que desperte algum tipo de sentimento que verdadeiramente nos encante.

Para os fãs de Jacques Costeau, que assistiam suas peripécias na TV (Globo, Manchete, Educativa) o filme tem um grande valor nostálgico. Uma pena que uma história dessas não tenha criado uma amálgama necessária para uma grande obra. Salva-se a produção, perde-se o texto e o dinamismo, tão necessários para que tudo funcione com harmonia dentro de uma obra cinematográfica. Jacques Costeau teria feito com mais entusiasmo.

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