Pantera Negra Wakanda Forever

Pantera Negra: Wakanda Forever é sobre luto e homenagens

Pantera Negra: Wakanda Forever é um filme sobre os processos do luto no MCU. É sobre as maneiras como ele afeta os personagens em termos individuais – a narrativa pessoal de cada um, seja a família de T’Challa – e coletivos – e de que forma Wakanda enquanto nação vai lidar com as ameaças externas após a perda de seu Rei, nosso saudoso Chadwick Boseman, falecido em 2020 por conta de um câncer. Dessa maneira, temos um filme emocionante e até mesmo ousado no sentido que o diretor Ryan Coogler foca mais nos conflitos humanos e nos sentimentos do que nas cenas de ação.

Dessa forma, o espectador é levado de volta para o reino de Wakanda, a nação mais poderosa do universo Marvel. Mas a potência se encontra fragilizada perante a morte tanto do personagem quanto do ator, fazendo sempre um diálogo entre ficção e realidade. Para além de todas as homenagens a Chadwick Boseman, o filme se centra nas ações e no poder de organização das mulheres. Em primeiro lugar, a Rainha Ramonda (Angela Basset) que precisa se posicionar em relação a questão do metal Vibranium em seu discurso nas Nações Unidas, bem como a Princesa e cientista Shuri (a polêmica Letitia Wright) que segue em busca de sintetizar a planta que faria um novo Pantera Negra emergir, e seu conflito de ancestralidade versus tecnologias.

Após declarações contra a vacina da Covid-19, Letitia causou um mal-estar que gerou justificadas reações contra a atriz, o que colocou em dúvida a sua participação no filme e até mesmo se a personagem seria a nova Pantera Negra como se especulava desde a morte de Boseman. Em alguns momentos, Shuri parecia por demais marrenta, o que seria até justificado na narrativa do personagem que não lida bem com a morte do irmão T’Challa. De qualquer forma, à medida em que o filme avança essa sensação vai se dissipando. Outros destaques são Riri Williams, a Coração de Ferro, interpretada por Dominique Thorne, Okoye (Danai Gurira) e Nakia (Lupita Nyong’o).

Namor em Pantera Negra Wakanda Forever
Tenoch Huerta é Namor em Pantera Negra: Wakanda Forever. © 2022 MARVEL.

É a partir da organização e da mobilização estratégica dessas mulheres que Wakanda se reestrutura e enfrenta a ameaça trazida por Namor (interpretado pelo ator mexicano Tenoch Huerta) e o povo submarino de Talocan. E nesse ponto reside a segunda força política da mensagem do filme, que nos remete à ideia da aliança e da união entre povos que passaram por processos colonizadores de violência, escravidão e genocídio. O império subaquático de Talocan governado pelo mutante Namor é fruto dessas violências coloniais e inspirado na mitologia asteca. Apesar de críticas em relação à mudança do personagem em relação aos quadrinhos, acredito que a introdução de Namor ficou muito mais interessante e aponta para os caminhos que o MCU deve tomar daqui para frente, com personagens mais dúbios e menos estereotipados entre o bem e o mal.

Pantera Negra: Wakanda Forever é também um deleite estético, trazendo uma direção de arte belíssima e preocupada com cada detalhe das diferentes culturas representadas como a tribo Jabari, ou as Dora Milaje por exemplo. O figurino de Ruth Carter – ganhadora do Oscar com o primeiro filme da saga – é um desfile de texturas e de significados. O humor se faz presente de forma mais sutil e crítica, sobretudo em relação ao papel da CIA e dos Estados Unidos.

A Rainha Ramonda em Pantera Negra Wakanda Forever
Angela Bassett volta como Ramonda, Danai Gurira é Okoye © 2022 MARVEL.

O filme pende mais para o emocional do que para as grandes lutas. Nesse ponto, o ritmo não é tão pungente quanto de outros filmes do MCU, mas mesmo com 2h45 não é cansativo (embora particularmente acredite que pudesse ter alguns cortes). O ponto mais fraco do filme se dá quando o filme sai das relações humanas e suas emoções e tenta ser mais do mesmo da Marvel, sobretudo na interação com o Everett Ross (Martin Freeman) e o mundo externo às nações de Wakanda e Talocan.

De qualquer forma, Pantera Negra: Wakanda Forever é um produto épico e emocionante com um elenco diverso e faz valer a pena o ingresso, seja pela beleza estética, pelos personagens que não víamos desde a derrota de Thanos, seja pelas discussões em torno do luto e de alianças.

Veredito da Vigilia

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