American Gods | Crítica 1ª temporada
Essa série não é pra qualquer um. Mesmo assim, American Gods já é uma das grandes séries de 2017 e vai aguardar até o fim do ano e início de 2018 para buscar algumas estatuetas nas maiores premiações da televisão. Desde a estética, personagens, história e narrativas, tudo que está lá é ótimo. E tudo saiu da grande mente do escritor Neil Gaiman (das clássicas HQs de Sandman) e de seu livro Deuses Americanos, já publicada no Brasil. A série é uma produção do canal Starz e é transmitida no Brasil pela Amazon Prime.
E se tudo saiu da cabeça de Gaiman, você já pode imaginar que vem loucuras e coisas que você nunca imaginou pela frente. Além disso, American Gods surfa num filão lançado, ou idealizado, com sucesso pela HBO, com Game Of Thrones, Westworld, Big Little Lies, produções que investem em histórias sem muitas amarras, com temas que não ganhariam a TV aberta, com ingredientes expressivos de violência e sexo. Tirem todas as crianças da sala. Só que aqui temos uma trama não tão digerível. Não é a típica história com início e meio fim, mas sim cheia de flashbacks, parênteses, colchetes, chaves e tudo mais que puder aumentar a fórmula narrativa. Com as devidas diferenças temáticas, dá para emparelhar com algumas loucuras que vimos também em Legion, que também estreou este ano.
Na história vemos Shadow Moon (Rick Whittle), um cara azarado que tem sua saída da prisão antecipada em alguns dias em função da morte da sua mulher Laura (Emily Browning) em um acidente de trânsito. A partir daí, tudo começa a dar tudo errado (na verdade começa antes, mas você só descobre depois) e ele cruza por um cara muito estranho. Sem muita opção, ele se alia a Wednesday (o ótimo Ian McShane) e passa a ser seu guarda-costas. Sempre com várias introduções e paralelos, a história, produzida por Bryan Fuller e Michael Green, vai traçando as histórias de personagens com “fatos históricos” de imigrantes que formaram a América. Na maioria das vezes, você não terá o andamento fluído da história, mas várias inserções psicodélicas de ótimos personagens e diferentes encarnações.
Entre essas encarnações estão Technical Boy (Bruce Langley, você vai se irritar muito com ele), Mr. World (Crispin Glover, que fez o George McFly de De Volta Para o Futuro), Bilquis (Yetidi Badaki), Mad Sweeney (Pablo Schreiber, também muito bem no papel) e a brilhante Media (a clássica Gillian Anderson, a Dana Scully de Arquivo X), você vai ficar preso a ela enquanto ela estiver na tela, sempre com uma roupagem diferente, passando por Marilyn Monroe, David Bowie e Lucy. Todos eles estão ali para atrapalhar a jornada de Wednesday e o seu escolhido Shadow Moon, mas os embates são sempre regados a muitos diálogos, transformações e recursos visuais incríveis. Wednesday, bom… você vai querer saber quem é e qual o seu objetivo praticamente o tempo todo.
Embora o protagonista seja Shadow Moon, os personagens que o cercam acabam sempre roubando a cena. Shadow Moon, na verdade parece está sempre embriagado e não sabe se vive um sonho ou realidade. Laura (você deve ter visto ela em Sucker Punch) rouba a cena com a esposa morta, em busca de seu antigo amor. A esperança dela é voltar a vida com o sol que virou Shadow Moon. Destaque para a cena em que ela precisa costurar o próprio braço e a outra em que ela salva Moon de um linchamento. Um banho de sangue, graças aos ótimos efeitos da série, que também dá um banho de visual.
Outro destaque são para temas latentes na sociedade atual. A vida de imigrantes, preconceito racial e social são apontados de formas grandiosas, em cenas construídas com muito cuidado e, ao mesmo tempo, impacto. Entre elas a de um navio negreiro (que é um soco no estômago) e a relação homoafetiva explícita. E no final, é claro, temos aquele clássico ápice que deixa todo mundo esperando pela próxima temporada. American Gods é daquelas produções que você ama, ou deixa. A primeira temporada tem oito episódios, mais um motivo para assistir.